16 setembro 2010

Dica de Filme- Minha Vida Sem Mim

A premissa é batida e parecia já ter sido suficientemente explorada pelo cinema. Entretanto, Minha vida sem mim (My life without me, 2003) revisita o tema com grande sensibilidade e não se apóia no sentimentalismo barato ou nas lições de vida engrandecedoras que geralmente pontuam as produções do gênero.

A protagonista é Ann (Sarah Polley), uma jovem faxineira de uma universidade que leva uma vida difícil. Com duas filhas pequenas pra cuidar - a mais velha nasceu quando ela tinha apenas 17 anos - e um marido desempregado (Scott Speedman), ela é obrigada a viver em um minúsculo trailer estacionado no terreno atrás da casa de sua mãe (Debbie Harry, da bandaBlondie), uma mulher amargurada e infeliz.

Depois de um desmaio em casa, Ann faz uma consulta com um médico e descobre que tem uma doença em estágio terminal. Restam-lhe apenas mais dois meses de vida, afirma o tímido médico, incapaz de olhar a moça nos olhos. É exatamente a partir daí que o filme desvia-se do usual: Ann decide esconder o fato de sua família e parte para realizar uma lista de pequenas que nunca fez e que gostaria de experimentar. Nada de grandioso ou memorável. Coisas tão absolutamente comuns e humanas que fica impossível não se relacionar com a personagem. Não há heroísmos. Não há rompantes de compreensão do sentido da vida ou sofrimentos exacerbados. Existe apenas uma jovem colocando sua própria vida, pela primeira vez, como prioridade.

O filme foi produzido pela El Deseo, produtora dos irmãos Agustín e Pedro Almodóvar, e foi dirigido com enorme equilíbrio por Isabel Coixet, uma profissional oriunda do mercado publicitário. A seleção do elenco foi bastante cuidadosa e o resultado é totalmente convincente. Polley (Madrugada dos mortos) atua com sutileza e revela grande talento, Speedman (Underworld) interpreta um marido devotado, Amanda Plummer (Ken Park) faz um ótimo trabalho como uma colega de Ann que vive metida em regimes e Mark Ruffalo (Em carne viva) está em um de seus melhores momentos como um rapaz que a protagonista conhece numa lavanderia.

Mas não pense que só porque Minha vida sem mim não segue a cartilha dos dramalhões que não se trata de um filme essencialmente triste. Esse é o tipo de história capaz de comover qualquer um, por incitar meditações sobre a vida, seu fim, e faz pensar e planejar seu tempo restante. Seja ele dois meses, alguns anos ou décadas. Como se fosse possível calcular algo assim...

Fonte:Omelete